terça-feira, outubro 23, 2012

O PAI ETERNO


PEÇA TEATRAL
O PAI ETERNO
Tragédia em 1 ato
Em memória de Nelson Rodrigues, no ano do seu centenário.
Autor: Celso Corrêa de Freitas
Personagens:
Pai > Nelro
Mãe > Dalva
Filha > Dace
Filho> Nylso
Genro > Pr Macedias
Amigos do Filho > 7 Homens (Não necessariamente todos adultos)
Amigos da Filha > 8 Mulheres (Não necessariamente todas adultas)
Mesa > Qualquer uma, pois não é o seu tamanho que regula os acontecimentos. Afinal, ela é apenas um detalhe no cenário.
Introdução: 
“Dace está no salão de beleza pertencente ao seu irmão Nylso. Seus olhos vagueiam pelo ambiente, enquanto ele enxágua a sua negra e espessa cabeleira.
Enquanto trabalha no cabelo da sua irmã, ele conversa com ela..."
N> Dace, amanhã o nosso amado pai, se vivo, completaria 100 anos!
D> 100 anos? É mesmo Nylso! A nossa festa este ano em memória dele, vai ser um arraso?
N > E a melhor!
D> De todas que já fizemos!
N> Pode deixar maninha que vou caprichar nos detalhes.
Então mana, pensando nisso, você poderia usar aquele seu “Vestido de noiva”! Papai gostava tanto de te ver vestida de noivinha...tinha adoração!
D> Pelo vestido?
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N> Claro que não sua boba. Não se faça de Tola, que você não é! Você sabe que antes, muito antes do vestido, você já povoava a mente dele.
D> Se sei...
E o que foi feito da foto do meu casamento, nunca soube!
N> Ele mandou fazer um “ALBÚM DE FAMÍLIA” que a bem da verdade, tinha só a sua foto. Quando recebeu o álbum, trancou-o no cofre dele, para ninguém além dele botar os olhos na fotografia.
D> E onde ela está agora?
N> Lá no porão da casa de mamãe!
D> Que safado! Mamãe tratou de me tirar do lado dele, pois se não o fizesse, eu ia acabar sentindo aquela “BOCA DE OURO” devorando o meu corpo.
N> Perdoa mana, entrega pra Deus!
D> Eu nunca a condenei! Mas me vestir de noiva...sei não!
N> E o que é que tem linda?
D> Mamãe não vai gostar da idéia.
N> Ah! Deixa a “MULHER SEM PECADO” para lá.
D> Engraçado não é, mamãe ficou “VIÚVA, PORÉM HONESTA”.
N> Diferente de você, que apesar de todo zelo dela, ficou “BONITINHA MAIS ORDINÁRIA”.
D> Ah tá, Olha quem está falando! Aproveitando, você vai trazer “OS SETE GATINHOS” na nossa festa?
N> Nem todos sua interesseira! Só alguns para dançarem comigo a música preferida de Papai, “A VALSA Nº 6”. Mas deixo você dançar com eles também viu! Eu não sou exclusivista, sei dividir o que é meu com as pessoas que eu amo.
E você “SENHORA DOS AFOGADOS”, vai ou não vai vestida de noiva?
D> Acho que não devo. O que eu vou ganhar com isso?
N> AH! Não se faça de santinha, que você está mais para a “DAMA DA LOTAÇÃO” que para a “FALECIDA”...
D> Tá bom, eu vou de noiva...sei que eu não vou ficar vestida nele por muito tempo na festa mesmo.
N> E o seu bofe, aquele “REACIONÁRIO” vem?
D> E por que não viria?
N> Faz tempo que eu não o vejo. Depois que “O CASAMENTO” aconteceu, ele tomou chá de sumiço!
D> Ele entrou numa de fazer filmes. Primeiro fez “O BEIJO NO ASFALTO”, logo em seguida “PERDOA-ME POR ME TRAIRES”...de repente...
N> De repente largou o cinema e virou pastor evangélico, Pastor Macedias!
D> Pois é! Para você ver, de Artista para a bíblia. Ficou rico pregando, só não quis separar-se de mim...
(...)
No dia seguinte. A casa de Nylso estava cheia. Na vitrola três em um rolava a trilha sonora da lembrança. A foto de Nelro sobre a mesa ao lado de bebidas diversas e carreiras robustas, era parte do cenário onde sua Família, genro e amigos confraternizavam-se.
A mesa disposta ao centro ao centro da sala era apenas um detalhe que complementava o quadro de corpos nus que se possuíam ao acaso.
Só uma pessoa, não participava daquele teatro carnal.
No umbral de passagem da cozinha para a sala, palco daquela orgia, uma figura maternal, concepção viva do “ÓBVIO ULULANTE(tão clara e transparente, que as pessoas não a enxergavam).”, de pé, com sua moral confessa, segurava firmemente em suas mãos, um cartaz no qual, com letras garrafais, estava escrito: 
“TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA”.
FIM

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RL 134 PARTE 1